vvvvDizem que o ser humano nunca estará habituado
a morrer em um só lugar.
vvvvPor essa razão, comunidades inteiras do oriente
- com o próposito da busca por novos recursos de
sobrevivência - atravessaram há milênios atrás o trecho
fininho que liga a Ásia com o Alasca pra dar início ao que
se entende hoje como a primeira colonização americana.
vvvvDaí pra frente, caminhar foi preciso. Se mudar, aliás!
Os cangaceiros - heróis-bandidos do sertão nordestino
no anos 30 - eram mestres na arte da habitação.
Moraram em 7 estados brasileiros e, se não tivessem
sidos impedidos, com certeza teriam alcançado Disney
ou quem sabe Patagônia.
vvvvHabitação e se habituar são palavras bem parecidas.
vvvvAtualmente, o meu quintal dá de cara pra uma escola.
Escola Infantil, pensem! Já fui apavarosamente acordado
ao som do
Hino Nacional, da
Santa Maria mãe de deusrogai tarará tarará e mais ainda pelo microfone agudo,
caralho! Que mais parece a pior fiação de rádio pirata
que existe:
vvvv— Abelardo Clóvis! Não corre, senão você sua.
vvvv— Elisabeth Andrade, não dê língua para a coleguinha.
vvvvPivetes gritam, eu respondo com um rosnado de
pit-bull com gripe suína. Euforia e indignação em uma
mesma manhã é pra poucos. Do mesmo jeito que eu não
prestaria pra ter um cativeiro de jacarés.
vvvvAcordar cedo, então, é que não é pra qualquer um!
vvvvTento me acostumar e não consigo. Durmo no requinte
climático da nova vida-rotina nova (apesar dos mosquitos
teimarem em impedir) e acordo achando que nem sequer
tirei os pés do meu antigo bairro. Meu ex-bairrinho querido.
Meu apegado ex-bairrinho.
vvvvEstou longe agora e a experiência é unânime. Outros
ventos, outra linha de ônibus, outra calçada pra se sentar
em plena meia-noite com o prato de janta. Devorando-a
com a mesma pressa que
Da Vinci teve pra pintar a
Capela Sistina.
vvvvBrujeria, nem pensar. Ainda. Por enquanto,
deixo todos acharem que sou um pacato novato que
lava as bermudas ouvindo Lou Reed. Natal, Ano Novo,
o que será será...
vvvvPor outro lado, é legal ficar chapa do povo de uma
padaria nova, saber que o cara do X-Bar decorou que
o seu sarrabulho é o do caldo grosso e sacar dia após dia
que a sua vizinha da frente é cheia de respaldos com
a Ronda do Quarteirão.
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vvvvMudar sempre foi uma forma de amadurecer.
vvvvE apesar de eu me sentir um leopardo retirado das
savanas africanas pra sobreviver na Sibéria, acreditem,
é a quinta vez que faço isso na minha vidinha. Pouco.
Abelhas perderam as contas. Guaxinins. Raposas. Camaleões.
Seres vítimas da praga da urbanização imobiliária, idem!
É a vida, né!? Não dizem que nela pra tudo existe um preço?
vvvv.
vvvvQual seria o seu, afinal?
vvvv.
vvvvO meu - nessa novíssima temporada - com certeza tem
sido um relógio.
vvvvApesar de está tudo bem, tudo legal, se eu não arrumar um
urgentemente, putz! Vou continuar perdendo a bendita hora
em que a minha atual paranóia deságua pelo portão
vvvv- Uma estudantezinha Brody Dalle com personagem da Pixar -,
vindo da sua bendita aula.
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vvvvDessa vez, prometo não vacilar.
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Ao som de Poluttion - Limp Bizkit